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Entrevista com Joe Adams, especialista em Folk Art

 Em Entrevistas

Esta interessante entrevista com Joe Adams, diretor da organização América Oh Yes, atuante no mercado de arte americano, e um dos grandes especialistas em Folk Art da atualidade, é elucidativa a respeito desse universo, razão porque a transcrevemos em nosso site.

 

P- Qual a diferença entre Arte Popular contemporânea (Folk Art), Arte Marginal (Outsider Art) e Arte Visionária (Visionary Art)?

R- É essencialmente a mesma coisa. Em princípio trata-se da arte dos autodidatas. Curadores e colecionadores ainda não entraram em acordo para definir um nome comum a todos. Alguns acham que Arte Marginal tem implicações negativas, que não é um termo inclusivo.

 

P- Por que esse termo, Arte Marginal?

R- Anteriormente era a arte à margem do fluxo artístico mundial. Roger Cardinal, o inglês que cunhou o termo, notou que havia artistas que criavam fora dos padrões da comunidade e da cultura. É uma designação apropriada para alguns artistas. Mas receio que hoje seja apenas mais um rótulo. Porque essa arte hoje não só entrou com muita força no contexto, mas se tornou a principal forma da arte contemporânea.

 

P- Por que pessoas sem estudo passam a fazer arte?

R- Ninguém sabe ao certo. Fazer arte pode ser um ato espontâneo e não planejado. Frequentemente pode ser motivado por algum trauma ou mudança brusca na vida de uma pessoa: morte de um familiar, um acidente trágico, separação, uma doença grave. Em suma: um momento de isolamento espiritual. É interessante também notar que mais da metade dos artistas populares passam a criar na chamada terceira idade. É quando têm mais tempo. Mas é também uma etapa onde a pessoa não se importa muito se alguém aprova ou desaprova o que faz. É a descoberta de uma nova paixão, algo que a mantém viva, e a pessoa passa a pintar ou esculpir até a morte.

 

P- Por que os colecionadores ficaram tão interessados na Arte Popular?

R- Sempre houve quem colecionasse uma arte diferente, mas a Arte Popular provocou maior interesse quando os museus passaram a exibi-la e colocá-la em seus acervos. É uma arte feita com paixão, que se comunica com o público. Ela vem do coração. Um amigo meu diz : “você tem que ver arte com o coração aberto, não apenas com a mente aberta”. À Arte Popular não é cerebral, não é necessário que alguém a explique, critique ou intelectualize. Você a ama ou a detesta, mas nunca a esquece.

 

P- Talvez seja apenas uma moda passageira …

R- Pode ser, mas acredito que não haverá mais volta atrás.O primeiro museu oficializado pelo Congresso, em Baltimore, o Museu Americano de Arte Visionária, é incrível! Está destinado a ser um dos maiores museus do mundo. O Smithsonian Museu de Arte Americana adquiriu uma estupenda coleção. Há hoje mais de 100 galerias especializadas nessa vertente. À Sotheby’s e a Christie’s têm incluído Arte Popular em seus leilões.

 

P- O que você mais aprecia na Arte Popular?

R- Acho que ela celebra o Espírito Criativo que vive em cada um de nós. Os artistas populares não conhecem o medo e a dúvida. Eles não estão preocupados com o que vizinhos ou familiares vão pensar sobre sua arte. Claro que eles ficam muito satisfeitos quando alguém mostra interesse pelo que fazem. Mas eles não deixarão de criar se alguém não gostar.

 

P-Arte Popular é realmente uma forma de Arte Contemporânea?

R- Se você tiver que enquadrá-la ou classificá-la, provavelmente esse seja o caminho. O trabalho de Bessie Harvey foi incluído na última Whitney Bienal. Os museus mais receptivos têm sido os de Arte Contemporânea. O Museu de Arte de Los Angeles e o Novo Museu de Arte Contemporânea fizeram mostras misturando o trabalho de artistas contemporâneos eruditos e o de autodidatas, principalmente para ilustrar as similaridades de pontos-de-vistas criativos e o uso de materiais e técnicas não tradicionais (especialmente o uso dos “objects trouvés”).

 

P-Mas não são similaridades casuais?

R- Não sei. Há uma longa tradição na arte erudita mundial de apropriação de imagens feitas por crianças ou procedentes de culturas primitivas. Muitos artistas lutam para “desconstruir” seu conhecimento e se embeber de primitivismo, de uma honestidade espiritual em sua arte. Não há dúvida que muitos artistas de primeira linha foram influenciados pela simplicidade e a inocência da arte infantil, por exemplo. Eu não sou um catedrático e meu ponto de vista talvez seja um pouco simplista. Mas arte é arte. Não sei se é necessário classificar, etiquetar e engavetar o que é essencialmente uma experiência visual. Não sei se é correto comparar criatividade. A Arte fala em voz alta e de maneira clara. É percebida com humor e emoção. Nos faz sentir. Acho que não é difícil se gostar de Arte Popular, por todas essas razões.