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O Sesc também erra

 Em Notícias

Todo mundo tem consciência da importância das atividades levadas a cabo pelo Sesc, em particular pela seção de SP da entidade. Mas tem uma atividade onde o Sesc ainda não acertou a mão, apesar da insistência e dos recursos que investe. Refiro-me à Bienal de Naifs, que tem lugar em Piracicaba, instituída nos anos 70 por um professor de geografia, funcionário da entidade.

Lembro-me bem dele, quando promovia eventos através da Ação Cultural da unidade de Bauru e nossos caminhos se cruzaram em Assis, SP. José Nazareno Mimessi, que dá nome ao Museu da cidade, entusiasta da arte popular, na época conhecida como “primitiva”, recebeu ajuda desse funcionário para criar um Salão de Arte. Nazareno era carente de recursos e a ajuda de uma instituição tão poderosa era garantia de êxito. Foram realizados 2 ou 3 salões, que pouco acrescentaram aos objetivos de Nazareno. Mas acabaram por fornecer ao representante do Sesc uma valiosa ferramenta. Nazareno se correspondia com muita gente no Brasil e tinha um banco de dados impressionante. Muitas vezes me falou nessa idéia de criar uma de Bienal de Primitivos, mas nunca me entusiasmei. Sabia que não havia tantos artistas assim para movimentar um certame de 2 em 2 anos, e fatalmente a coisa descambaria para a admissão de maneiristas e imitadores. Mas, se para mim a idéia não era sedutora, essa era a oportunidade de ouro para o tal professor subir na hierarquia da entidade. Brandindo a pesquisa como se fosse ele o autor, após ter tido acesso ao banco de dados, a idéia foi aceita, e o SESC mobilizou os seus recursos no desenvolvimento do projeto. Na sequência, o funcionário, autonomeado curador, “comprou” o nome de “arte naif” para rebatizar os artistas populares. Essa denominação, contribuição de 2 marchands francófonos no mercado de arte, causou-me acidez estomacal desde que a ouvi pela primeira vez. Pra começar é absurda gramaticalmente, pois faz sentido em francês e espanhol usar o adjetivo naif, forma masculina, pois arte nesses idiomas é também um substantivo masculino. Mas arte em português é feminino, e assim teriam de ter chamado a coisa de arte naive, como acontece com a Língua alemã (naive kunst) e inglês (naive art). Mas se naif quer dizer ingênuo, me perguntava, não era descabido utilizar um galicismo para denominar uma coisa tão nossa, tão da alma de nosso povo, tão de nossa identidade? Sempre achei um conceito malintencionado, pois pretendia colocar na mesma cesta todos os que trabalhavam determinado estilo, independentemente se eram bons ou maus autores.Mas o pior é que, por falta de conhecimento do curador, (ou talvez propositalmente, quem sabe?) a bienal tornou-se uma vitrine para os oportunistas, os pintorecos e os que precisavam aparecer e não tinham obra qualificada, na maioria das presenças que se tornaram constantes nesse certame. E assim vem acontecendo repetidamente a cada 2 anos. O que poderia ter sido uma excelente abertura para o incentivo de novos valores, tornou-se objeto de estranhas manipulações que privilegiaram galerias, pintores sem qualificação e personagens excusos. Poucos foram os nomes novos com obra importante que ali foram distinguidos. E a maioria dos grandes artistas populares, ou não foi convidada, ou não se interessou. De uns tempos para cá, aposentaram o professor de geografia, mas parece que sua sombra ainda paira sobre a organização da bienal. O SESC, por alguma razão, insiste em continuar o projeto e tem-se esforçado por melhorá-lo. Os novos responsáveis passaram a chamar para salas especiais, curadores mais qualificados, como o último, que foi tocado por Olívio Tavares de Araújo. Neste, até mesmo nós comparecemos. Pela primeira vez fomos chamados e emprestamos obras de Alcides Pereira e Ranchinho.

Mas essa Bienal terá que encontrar outros caminhos. Com a abertura do Pavilhão das Culturas, no prédio da Prodam em SP, que reunirá um grande acervo de arte popular e poderá ter uma programação consistente nessa linha, não hã mais qualquer justificativa para o Sesc continuar a desperdiçar dinheiro com um evento que nada acrescenta, muito pelo contrário.