Acompanhando o movimento artístico matogrossense desde 1978, vi nascerem muitos valores nessa terra fértil de talentos.
Alguns surgiram de forma avassaladora para logo mais estancar e refluir. Outros, depois de um começo modesto, foram-se firmando, evoluíram e tornaram-se nomes pontuais. E o processo continua . Está longe de haver cessado o efeito desse poderoso fermento cultural introduzido pela dupla Aline Figueiredo / Humberto Espíndola.
Entretanto, eu não podia imaginar que Cuiabá ainda tivesse seus segredos. E um deles apareceu numa de minhas últimas visitas à cidade, sob a forma de uma inesperada e inquietante criadora chamada Vitória Basaia.
De início achei estranho que quase não se mencionasse sua obra, já que ela é um dos poucos artistas “bruts” do Brasil, transitando numa vertente onde se destacaram apenas Tereza d’Amico em São Paulo, Franklin Cascaes e Eli Heil em Santa Catarina e agora Moacir Faria, na Chapada dos Veadeiros. A “Art Brut”, assim definida pelo pintor Jean Dubuffet nos anos 30, nutre-se da linguagem do inconsciente e de permanências arquetípicas , gerando uma obra que não prioriza o estético, mas o significado e o simbólico.
Por ser uma manifestação artística que, além de rara, nem sempre é bonita e decorativa, a Art Brut freqüentemente demora para ser reconhecida e encontrar seu nicho de aceitação. Foi o que ocorreu com Vitória Basaia. Estivesse esta artista em contato com centros de apreciação mais amplos, seu trabalho não só teria sido aceito com maior rapidez , como teria causado sensação. Porque ela antes de tudo faz-se notar pela extrema criatividade uma alquimista da forma, que precisa de pouca coisa para dar expressão à sua arte.
Ela produz , com fôlego incessante , quase compulsivo, imagens que espelham seu profundo vínculo com as fontes da feminilidade. Sua capacidade de tirar do nada, das coisas mais corriqueiras, elementos com os quais constrói sua poética, lembram o fôlego e a habilidade no desvelar o novo, da já citada Eli Heil, uma artista de que poucos se lembram no Brasil, mas que construiu uma sólida reputação internacional, através da marchande Ceres Franco, de Paris.
Confesso-me encantado e atento à produção de Vitória Basaia. Considero-a ao lado de Nilson Pimenta, Roberto de Almeida e Alcides Pereira, que formam hoje em Cuiabá um dos mais representativos núcleos artísticos do Brasil – e que tenho a honra e o privilégio de poder representar e promover.
Roberto Rugiero
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