Zica Bergami é uma artista raríssima.
Entre muitos pintores ingênuos no Brasil, ela é um dos poucos desenhistas nesse campo.
Esse fato já seria suficiente para lhe conferir destaque,mas Zica é muito mais. Ela é uma importante, talentosa e original desenhista ingênua, qualidade pouco encontradiça não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Os ingênuos são pessoas autodidatas que se manifestam artisticamente por pura emoção e necessidade de se comunicar. Pouco conhecem de arte e muitas vezes não têm nem noção do que estão fazendo. Criam em primeiro lugar para si mesmos, para desvendar e ampliar seu mundo, para canalizar os sentimentos fortes que não conseguem mais reprimir.
Muitos, como é o caso de dona Zica, começam a criar já maduros, depois dos 55 anos, quando a vida já está encaminhada e precisam encontrar um outro eixo para suas existências.
Foi assim com ela.
Começou a compor e criou uma das músicas mais conhecidas da MPB, o “Lampião de Gás”, o primeiro sucesso espetacular da carreira de Inezita Barroso. Até hoje muita gente pensa que foi Inezita quem compôs essa marcante música, de tal forma ela foi significativa em sua trajetória artística. Não, a autora foi uma dona de casa que além do “Lampião de Gás”compôs muitas outras músicas.
Essa autoria já faria de Zica Bergami uma celebridade. Mas ela é ainda mais do que isso. Ela é uma artista plástica superlativa, um dos grandes desenhistas do Brasil. E também uma interessante memorialista.
Zica Bergami, hoje com 91 anos, escreveu um livro onde narra histórias e fatos de sua infância e adolescência, reunidos num volume denominado “Onde Estão os Pirilampos?”. Onde foram parar, indaga ela, os vagalumes que iluminavam os sonhos da garotada, aqui nesta mesma cidade de São Paulo?
No início do século Zica conviveu com eles, com a famosa garoa, com as enchentes, os balões, as festas de São João e toda uma série de brincadeiras e folguedos que as crianças de hoje não fazem nem idéia.
R. Rugiero, 2002