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A onda das curadorias

 Em Notícias

Sou do tempo em que não existia a ocupação de curadores. Para alguém ser marchand tinha que ter conhecimento, algum capital, e principalmente muita ousadia para apostar nos ganhadores certos da corrida.

Essa postura vinha de uma tradição fortemente acentuada nos tempos do impressionismo. O marchand Durand-Buel segurou praticamente sozinho a barra do começo dessa escola. Num tempo em que um Courbet era vendido por 300.000 francos, e um Manet não pegava mais do que 3.000, ele teve cacife e fé para não deixar de comprar as obras daquela geração artistica que era motivo de gozação para os críticos da época. Quando morreu, no início do século XX, seu acervo tinha mais de 5.000 obras.

Alguns atribuem a conivência dos críticos com as mediocridades institucionalizadas da arte contemporânea à síndrome provocada por não terem seus antecessores do século anterior percebido que estava surgindo uma nova arte, que ela era autentica e reveladora, e que ia tomar conta do panorama.

Mas outros nomes foram muito importantes para a renovação artística que estava por vir: Ambroise Vollard, Wilhelm Uhde, Wildenstein, Daniel Kahnweiler, eram todos homens muito cultos, estudiosos de filosofia e história da arte, e que ajudaram a pavimentar o caminho que depois foi trilhado pelas gerações posteriores de marchands e artistas.

Aqui no Brasil a coisa não é bem assim. A maioria absoluta das pessoas que comercializam arte não tem qualquer formação, muito menos informação, e se qualificam trabalhando em conjunto, discutindo, trocando impressões, combinando valores. Não ficam longe da ideia de um cartel. Só que não traficam coisas ilícitas, mas instituem conveniências, valorizações e apostas.

Há um grande número de senhoras no mercado. Algumas com cultura, audácia e articulação para representarem, com êxito e correção, nomes importantes da arte nacional, como José Patrício, Adriana Varejão, Sandra Cinto, Revane Neuenschwander. Mas hã um grande número de dondocas que, como nada sabem, tiram o bumbum da reta contratando curadores para escolher as obras, dar sentido a um discurso, aparecer na mídia. No geral são contratadas pessoas com certo renome, mas pode acontecer também de serem chamadas à cena pessoas que a gente nunca ouviu falar, scholars, entendidos tirados da gaveta, gente sacada de alguma dobra da obscuridade intelectual, e que, com um discurso cheio de afirmações e metáforas, explica o sentido do que “curam”.

Considero uma vergonha para um marchand contratar um curador para dar substancia a uma mostra, um verdadeiro atestado de despreparo para a profissão que escolheram. Necessitam do apoio de outro profissional para dar suporte ao que seria, obrigatoriamente, função deles mesmos. Mas a onda é essa, e se esconde em razões as mais diversas.