A última notícia bombástica do mercado de arte foi a venda, por mais de setecentos mil dólares, de obras das brasileiras Beatriz Milhazes e Adriana Varejão, em leilão de arte latinoamericana realizada em Nova lorque. De tempos em tempos notícias assim estremecem a pasmaceira dos jornais, em relação às artes plásticas, e criam no mercado um clima de euforia semelhante à das bolsas de valores, quando dão aqueles saltos.
Francamente, não estou afirmando que há alguma tramóia na origem dessa surpreendente valorização, mas senti uma ferroada atrás da orelha quando li a notícia. Não é segredo que se pratica no mercado certa metodologia feita sob medida para catapultar preços de artistas através de leilões, principalmente quando estes acontecem no exterior. Dada a nossa condição de subserviência também em matéria de cultura, esses súbitos recordes caem como raios por aqui e provocam transfusões de vultosas quantias do bolso dos afobados para o do time organizado. Explico: quando o proprietário de uma obra a coloca em leilões internacionais, no caso da venda se realizar, é pago um percentual (em geral 20%) para a empresa vendedora . Isso quer dizer o seguinte: é perfeitamente possível alguém colocar um trabalho nessas operadoras e ele mesmo comprá-la, utilizando um laranja. Isso lhe custará uma quantia que, Logicamente, é perdida. Mas em compensação toda a obra desse artista ganha uma justificativa e um impulso de valorização próximo dos números supostamente alcançados. É o maior tititi.
Esse truque já alterou o mercado e valorizou muita gente por aqui, colocando um ou mais zeros em seus preços praticados anteriormente. Ora, corre no mercado a versão de que essas duas boas artistas brasileiras hoje são apadrinhadas por um pool de investidores (marchands e jogadores financeiros) bastante “comprados” que atuam em grupo para valorizar os seus ativos. Por um lado, perderiam com essa venda algo em torno de 150 mil dólares, por cada artista. Por outro, oficialmente, triplicaram o valor das obras dessas artistas que estão em seu poder, desencadeando uma bela plus valia no videogame dos cifrões.