Os animais figuram nas mais antigas representações iconográficas realizadas pelo homem. Nos tetos de grutas, em pedras e ossos, em utensílios, o ser humano documentou sua trajetória, essencialmente ligada, por razões de magia e de sobrevivência, à fauna que lhe forneceu alimento, à que incorporou ao convívio doméstico, ou da qual se defendeu nos vastos territórios que foi conquistando. Em Altamira e Lascaux apreciamos com espanto e reverência esses registros perdidos no tempo e nosso olhar reconhece as primeiras manifestações da linguagem artística.
Continuadores desses episódios relatados no alvorecer das culturas, os artistas atuais permanecem mostrando em suas obras a presença de animais de toda espécie. Sua referência na vertente popular é uma constante. E na arte étnica, praticamente o único tema.
Bichos domesticados, selvagens e também míticos estão presentes na obra de muitos de nossos pintores, nas xilogravuras de cordel, nos desenhos e cerâmicas e nas esculturas em madeira dos mais talentosos artistas. Na obra do mato-grossense Roberto de Almeida, por exemplo, constitui-se no tema dominante. Nos bancos rituais dos artistas Mehinako podemos apreciar a beleza, a elegância e a sacralidade mítica de alguns animais: a anta, o tamanduá, a tartaruga, a onça, os pássaros.
Esta mostra, embora apreciável por seu número, não é mais do que um modesto mergulho no universo descritivo, afetivo, referencial e simbólico em que são os personagens principais esses seres que São Francisco chamou de irmãos.
E que hoje, predadores que somos, ameaçamos de forma crescente e inexorável.
Roberto Rugiero, 2007
(texto de apresentação da mostra realizada na Fundação Leopoldina/Cataguases,
em Cataguases, MG)