Ela é autora de um dos grandes sucessos da MPB, o “Lampião de Gás”, considerado por Zuza Homem de Melo “a mais bela canção já escrita sobre São Paulo”. Memorialista. Autora de belos versos. E sobretudo uma das mais autênticas artistas ingênuas do Brasil, desenhista de qualidade internacional, que nos EUA pertenceria à chamada “Inocent Art”.
Maria Elisa Campiotti Bergami nasceu em Ibitinga, SP, em agosto de 1912, onde seu pai fixou-se como imigrante e trabalhador rural. Homem de confiança do dono da fazenda e conhecedor de vinhos, Logo recebeu a incumbência de tornar-se também provador da cachaça produzida no local, o que o induziu a tornar-se alcoólatra. Um dia, simplesmente saiu de casa e nunca mais ninguém teve dele qualquer notícia.
Zica veio para São Paulo e morou primeiro na Barra Funda, depois no Bom Retiro. Era uma outra São Paulo, a dos lampiões de gás, das cheias do Tietê, então um dos lugares de lazer e esportes da Capital. Essas recordações Zica deixou impressas em livro (“Onde Estão os Pirilampos?”) e em inúmeras obras que evocam seus tempos de menina, a família, os bailes onde, mocinha, atraía o olhar apaixonado da rapaziada. Energia, criatividade e beleza a acompanharam nas diversas fases de sua produtiva existência. O desenho aconteceu por pura necessidade de extravasamento de uma sensibilidade que forçava por se manifestar. Não teve uma única lição de arte, nunca entrou em contato com qualquer artista plástico, fez tudo sozinha, como sempre fez. E nunca mais parou.
É simplesmente um dos grandes artistas do desenho no Brasil. No mundo existem tantos pintores ingênuos, populares, instintivos, primitivos, espontâneos, ínsitos, naifs, qualquer que seja o rótulo que lhes designemos.
Mas desenhistas, muito, muito poucos. Aqui no Brasil além dela houve Eurídice Bressane, Cincinho (Inocêncio Alves dos Santos), Tio Quincas, Joel Câmara e um ou outro pintor que também fazia desenhos, como José Antonio da Silva, Bajado e Gerson de Souza.